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23 de Abril de 2024

Prisões do juiz Moro violam o Estado de Direito (diz Odebrecht)

Publicado por Luiz Flávio Gomes
há 9 anos

Emílio Odebrecht, pai do encarcerado Marcelo, disse um dia: “Eu acho que a sociedade toda é corrompida e ela corrompe”. Não é por acaso que a Odebrecht é apontada como líder da roubalheira cleptocrata no Brasil. De qualquer modo, a organização contestou as prisões do juiz Moro dizendo: de acordo com a Constituição brasileira, primeiro deve-se investigar e processar (coletar provas) para depois encarcerar o réu nos regimes fechado ou semiaberto. O “Código Moro” funciona ao contrário (seria o avesso): primeiro encarcerar para depois investigar e processar (coletar provas).

O STF (em abril/15), ao liberar 9 executivos ou donos de empreiteiras dos cárceres de Curitiba, adotou postura menos drástica: substituiu o encarceramento em cadeia pública por várias medidas cautelares alternativas (prisão domiciliar com monitoramento eletrônico, impossibilidade de gerenciamento das empresas, proibição de deixar o país etc.). Na ocasião, no entanto, “esqueceu” de fixar fianças milionárias, que são as mais eficazes para garantir eventual reparação dos danos (em caso de condenação final). Espera-se que o mesmo “equívoco” não seja repetido em relação às novas liberações. Desalentador é saber, entretanto, que o humano é o único animal que tropeça duas vezes na mesma pedra.

Prises do juiz Moro violam o Estado de Direito diz Odebrecht

A Odebrecht, pela primeira vez em sua longeva história de enriquecimento lícito e ilícito, enfrenta a situação de encarceramento do seu presidente. Acusações contra ela, no entanto, datam do tempo de Juscelino Kubitschek, passando pela ditadura civil-militar e todos os governos da redemocratização.[1] No governo Collor, por exemplo, foi intenso o envolvimento da Odebrecht com a corrupção do país. Emílio Odebrecht (pai do Marcelo, atualmente encarcerado) deu a primeira entrevista de sua vida para um jornal e com todo seu “sincericídio” explicou o funcionamento da cleptocracia no Brasil[2]:

Jornal do Brasil (JB) – “As acusações contra a Odebrecht falam de suborno. O ex-ministro Madri teria sido subornado pela Odebrecht, o governo do Acre também. O senhor já subornou alguém?” Emílio Odebrecht – “Essa é a pergunta que… primeiro vamos analisar o que é suborno”. Mais adiante acrescentou: “Então, o que é hoje a corrupção nesse país? Eu acho que a sociedade toda é corrompida e ela corrompe (sic). Hoje para o sujeito resolver alguma coisa, para sair de uma fila do INPS, encontra os seus artifícios de amizade, de um presente ou de um favor. Isso é considerado um processo de suborno. O suborno não é um problema de valor, é a relação estabelecida”.

O que fazer quando um processo está lento? Emílio respondeu: “Se for preciso a gente banca (sic) o funcionário para levar de um andar para o outro e assim por diante”. O método corruptivo, como se vê, está no DNA da Odebrecht. O JB perguntou se temos que batalhar para as coisas andarem. Emílio explicou: “É verdade. Infelizmente é verdade. O que mais impressiona é que fazemos tudo isso no exterior e não tem problema. Tudo que fazemos no Brasil fazemos no exterior”.

JB – O ex-ministro Madri diz que fita transcrita pela polícia federal que recebeu US$ 30 mil para fazer as coisas andarem. É assim que funciona no Brasil? Emílio – “Isso é coisa de quem está querendo deformar a ação do ‘prestador de serviços’”. O corrompido se transformou (para a Odebrecht) em “prestador de serviços” (sic). O corruptor, evidentemente, é o pagador dos serviços. Sincericídio mais acachapante é impossível! Assim funciona a engrenagem da cleptocracia brasileira, que está gerando ódio e indignação em todos (inclusive nos hipócritas). Mas é um erro crasso transformar esse ódio (emoção) em populismo penal. Sou favorável ao empobrecimento de todos os cleptocratas, porém, dentro do Estado de Direito.

[1] CAMPOS, Pedro Henrique Pedreira. Estranhas catedrais. Niterói: Editora da UFF, 2014.

[2] CAMPOS, Pedro Henrique Pedreira. Estranhas catedrais. Niterói: Editora da UFF, 2014, p. 402.

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Respeitando a divergência apoio incondicionalmente as atitudes do Juiz Moro, a prisão que foi decretada é preventiva o direito ao contraditório e ampla defesa esta sendo garantida, caso não seja em prima fase, será a posteriori, deve-se lembrar que as pessoas envolvidas são altamente influentes na sociedade o que pode atrapalhar as investigações. a prisão é cautelar e não definitiva. continuar lendo

Concordo Erich... Prisões preventivas são decretadas diariamente, e ninguém fala nada de violação do Estado de Direito. Só porque dessa vez mexeram no vespeiro dos endinheirados que financiam a "cleptocracia", nas palavras do Professor LFG. Verdade é que na atual conjuntura do Direito Brasileiro existe fundamento pra todo e qualquer entendimento e decisão, a vasta gama de princípios e a enormidade de entendimentos e aplicações que deles denota tem criado uma sensação de insegurança jurídica muito grande... continuar lendo

Perfeito Erich. Atualmente o Juiz Moro representa a "esperança de justiça" do povo Brasileiro. Ele se transformou em um "herói nacional". Mas apesar disso, creio que suas medidas tem sido acertadas e o encarceramento de pessoas poderosas que podem alterar o curso de uma importante investigação é uma medida prudente e justa, afinal, os indícios de crimes graves e danos de grande monta que aparentemente causaram (ao que tudo indica, já com provas materiais suficientes), mais que justificam tal atitude. continuar lendo

Concordo Erich, acredito no Juiz Moro, Vamos ver o final da novela. Obrigado continuar lendo

Entendem-se os argumentos jurídicos; mas o que de fato viola o Estado de Direito?
Para o cidadão, o que mais viola o Estado de Direito é o roubo, o desvio e o malfeito de governos e corruptos, de ambos os lados que, com seus desvios de milhões ceifam, dentro do Estado de Direito, merendas escolares, giz, lousa, transporte, medicamentos e dignidade de todo um país. Não é possível que não haja caminhos corretos, não é possível que não se possa produzir e enriquecer dentro da lei sem ferir o estado do direito à vida e à dignidade de uma nação. Prisões necessárias; que venham outras e que não sejam paliativas ou parte somente de uma encenação, mas que contribuam para mudar e Estado e torná-lo de fato direito e não torto como há muito se vê. continuar lendo

Concordo, Alessandro.
Quando interessa aos "corruptos bem-sucedidos", o "Estado de Direito" é expressão repetida centenas de vezes.
Vivemos situações hoje que não se encaixam no conhecimento jurídico que tive a honra de adquirir nas Arcadas, em final dos anos 70.
De tanto ver triunfar tantas nulidades, vejo hoje com tristeza que estão tentando adaptar o ordenamento jurídico aos interesses escusos de quem deveria estar na cadeia há muito tempo.
E, tristeza maior ainda, é que a indignação transborda, ao ponto de achar que China e Indonésia têm razão quanto ao tratamento de ladrões e traficantes.
Que o Brasil melhore, em nome do futuro de nossas crianças! continuar lendo

Alessandro muito boa sua colocação, mas você disse uma coisa que eu gostaria de comentar, sobre não ser possível que não haja caminhos corretos. Veja eu trabalhei no serviço público em todas as esferas, municipal, estadual e federal e em nenhuma delas eu passei sem ver alguma forma de lesão ao patrimônio público. Na prefeitura tínhamos mais funcionários que mesas para trabalhar e assim revezávamos o comparecimento, assinando a folha de presença uma vez ao mês mas com todos os dias trabalhados. Na federal não havia qualquer controle de frequência pois essa era determinada pela 'qualidade' dos navios atracados no porto e sua capacidade de trazer contrabando. Claro que todos que trabalham no serviço público compravam ou se apropriavam dos produtos importados ilícitos na ocasião que todas as importações eram proibidas (sem estabelecer um juízo de ser ou não justa a proibição). No Estado tanto pior. Antes de tudo devo te dizer que sempre estudei muito para ingressar nos cargos que ocupei, nenhum deles foi me dado de favor, nunca tive padrinhos. No Estado eu acreditava que na minha função poderia ser útil à sociedade, prestar de fato um bom serviço e tornar o país, ao menos na minha região, um lugar melhor para todos viverem. Nunca participei de 'grupinhos ou panelas' e esse foi meu maior erro. Passei a ser mal visto pelos chefes que adoravam puxa-sacos e gostavam de 'presentinhos'. Nunca tive nada a oferecer pois nunca nada me veio de graça para que eu compartilhasse. Ainda assim achei por diversas vezes na minha gaveta envelopes anônimos que sei provinham do jogo de bicho e que eu nunca soube a quem devolver - dai doei a instituições de caridade. Um dia fui vítima de uma armação pois estava atrapalhando interesses maiores, fui preso e exonerado, sem conseguir me defender de forma adequada. Dai questiono: será que as prisões realmente necessárias a acabar com o torto que ai está estarão sendo feitas ou são uma cortina de fumaça. Porque continua se permitindo a obviedade dos desvios do dinheiro público com dezenas de ministérios e toda sua comitiva de 'aspones'; porque se permite reeleger um candidato que construiu uma ponte onde não havia rio e outras coisas do mesmo teor que para citá-las seriam necessário um site somente para isso?
O problema do Brasil vem da colonização - não por virem para ca criminosos expulsos de Portugal, na Austrália a colonização também de se deu por criminosos expulsos da Inglaterra, mas porque que os que vieram pensavam em passada a pena enriquecer e voltar - na Austrália não havia volta. E parece que essa continua sendo a mentalidade até hoje: enriquecer e ir-se para outro lugar, sabe-se lá qual! continuar lendo

Como sempre, um ótimo artigo do professo LFG! Essa questão da fiança na área penal, aliada a medidas cautelares na ação de improbidade administrativa, é fundamental para se empobrecer essas empresas corruptas. Os sócios e acionistas ganharam dinheiro ilicitamente. Nada mais justo do que arcarem, agora, com o ônus da gestão corrupta. Claro, tudo isso de acordo com o devido processo legal. Fora da Constituição e das leis, não há solução. continuar lendo

Fraudar licitações causando bilhões de prejuízo ao erário viola o Estado de Direito. continuar lendo