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19 de Abril de 2024

Juízes fora da lei

Publicado por Luiz Flávio Gomes
há 9 anos

Na magistratura brasileira (como em todos os lugares do planeta) há juízes de todo tipo (honestos, venais, ladrões, negligentes, aristocratas etc.). Os honestos e trabalhadores são os mais atingidos indiretamente em sua honra diante dos atos e omissões dos juízes pouco ortodoxos (fora da lei). Nesta última categoria há de tudo: juiz que usa carro apreendido para ser leiloado (carro de Eike Batista), que dá “carteirada” e prende a funcionária do trânsito mesmo estando com seu veículo irregular, que prende funcionários de companhia aérea depois de ter perdido o horário do voo, que maliciosa ou negligentemente guarda o processo, sobretudo de réus importantes (deputados, por exemplo), nas gavetas até chegar a prescrição, que afasta de suas funções outro juiz por ser “garantista das garantias constitucionais” (tribunal de São Paulo), que mora em apartamento funcional do Senado em Brasília pagando aluguel simbólico, ou seja, muito abaixo do mercado (esse conúbio entre o Senado presidido por um político processado criminalmente e ministros de tribunais superiores não é uma coisa boa para o País), que recebe imoralmente auxílio moradia mesmo tendo imóvel para morar (recebe um tipo de aluguel por ocupar o seu próprio imóvel), que se declara solidário a réu preso por suspeita de corrupção (caso Gilmar Mendes e o ex-governador de Mato Grosso divulgado pela Época), que é condenado por corrupção por vender sentenças (caso recente em SP e vários outros Estados – mais de 100 juízes já foram punidos pelo CNJ) etc.

O primeiro corregedor-geral do país (ouvidor-geral) também foi um corrupto

Se os corruptos e corruptores, no Brasil, atuam com a mais absoluta sensação de que ficarão para sempre impunes, se a corrupção (entendida como prática criminosa que envolve agentes públicos e privados) aqui ingressou com os primeiros habitantes europeus e se consolidou com a construção do arremedo do “Estado Brasil”, em 1548 (tempo de Tomé de Sousa, Governador-Geral) e se o primeiro ouvidor-geral do Brasil (primeiro corregedor-geral da Justiça), Pero Borges, para ca foi nomeado (em 17/12/1548) pelo rei depois de ter surrupiado grande soma de dinheiro na construção de um aqueduto, em Elvas (no Alemtejo) (veja E. Bueno, em História do Brasil para ocupados, organizado por L. Figueiredo, p. 259), como negar que pertencemos a uma cultura patriarcal e patrimonialista desavergonhada, sem escrúpulos, sem pudor, debochada?

Analisando-se os desmandos e as estrepolias dos juízes corruptos, que vêm da escola de Pero Borges (que aqui se enriqueceu mais ainda), entende-se rapidamente a diferença entre uma cleptocracia (Estado governado por ladrões) e uma democracia cidadã civilizada (como é o caso dos países nórdicos, por exemplo: Suécia, Finlândia, Dinamarca, Noruega e Islândia): basta verificar a eficácia (ou ineficácia) do império da lei, ou seja, o quanto fica impune a corrupção do poder político-econômico-financeiro. Se os ladrões graúdos (agentes políticos, altos funcionários, agentes econômicos e agentes financeiros), que têm como escopo principal ou lateral de vida a Pilhagem do Patrimônio Público, desfrutam de um alto nível de impunidade, estamos inequivocamente diante de uma cleptocracia. E esse é o caso do Brasil.

Mas a negligência ou conivência da Justiça (frente aos poderosos) é um fenômeno isolado ou bastante corriqueiro? É frequente e onde isso ocorre podemos afirmar que estamos diante de uma cleptocracia (que se caracteriza não apenas pela roubalheira geral do patrimônio público, senão também pela impunidade dessa ladroagem). Considerando-se os dados de 2012 temos o seguinte: a Justiça brasileira, nesse ano, condenou 205 pessoas por corrupção, lavagem e improbidade. Pesquisa do Conselho Nacional de Justiça mostrou ainda que, entre janeiro de 2010 e dezembro de 2011, quase 3 mil processos por esses tipos de crime foram extintos por prescrição. Infográfico feito pelo jornal Gazeta do Povo mostra o seguinte:

Juzes fora da lei


A Justiça brasileira, como se vê, com 3 mil prescrições anuais somente nessa área da corrupção e improbidade, é uma indústria fértil de prescrições (que ocorrem quando o Estado perde o direito de punir em razão do transcurso do tempo), que vêm beneficiando inclusive muitos políticos (Sarney, Maluf, Jader Barbalho etc.). Ela funciona muito mal e é extremamente morosa (daí a desconfiança da população, em todas as pesquisas na última década). Muitas vezes ela não tira proveito material da criminalidade organizada P6 (Parceria Público/Privada para a Pilhagem do Patrimônio Público). Mas, com tantas prescrições (milhares por ano, como se pode notar no Infográfico acima), não se pode negar que seja conivente com o malfeito, com a corrupção, em suma, com a cleptocracia. A Justiça faz parte do sistema de impunidade reinante no País, que beneficia todo tipo de criminoso, incluindo especialmente os larápios que vivem da pilhagem do dinheiro público.

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60 Comentários

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Além das condutas pouco ortodoxas (Fora da Lei) referidas no texto, acresento o problema de alguns juizes desconhecerem o horário de expediente dos fóruns. Conheço um grande número deles que, quando vão ao fórum, dão expediente de apenas 2 ou 3 horas em um dia. Assim, é óbvio que vai haver acúmulo de processos, prescrição, injustiças... continuar lendo

Conheço um que quando juiz, hoje desembargador, chegava ao Fórum fora do expediente de trabalho (acimas das 19h) e trabalhava até tarde da noite obrigando os servidores da vara a fazer o mesmo ... ele fazia isso para "não ser incomodado" por advogados e pelas partes.

Um abuso sem descrição.

Há juízes, em comarcas do interior, que trabalham uma dia a cada 15 ou até aparece uma vez no mês. Há os que têm doença pré-datada, pois sempre coincide com o período que antecede suas férias ou o recesso judiciário.

Para mim o grande problema é: corporativismo, falta de controle e de punição eficaz.

As punições são bem generosas entre juízes, sem contar que os processos rastejam. Ademais, quem hoje é corregedor amanhã volta a ser "servidor comum" ... e aí vem as retaliações internas ... sem contar que se ele depender do voto de amigos, sócios ou parentes do punido para ser desembargador já viu né !!! É a política do "aqui se faz, aqui se paga". continuar lendo

Concordo.
Mas acho que tem que ficar claro que não podemos depositar confiança em pessoas, mas em instituições.
Não haveria tantos problemas se os casos fossem isolados e a instituição Poder Judiciário funcionasse e punisse esses casos isolados.
Infelizmente acontece justamente o contrário.
O corporativismo impera e as falhas dentro da instituição se alastram com velocidade assombrosa.
Quanto a isso a vitaliciedade desempenha um péssimo papel, garantindo que verdadeiros criminosos se mantenham como representantes do Judiciário.
Se o Executivo e o Legislativo estão sujeitos a escrutínio com data marcada, as eleições, que possibilitam alguma mudança para melhor. O Judiciário, entretanto, não inspira qualquer esperança de melhora, e casos emblemáticos e conhecidos de fraude já para o ingresso em seus quadros permanecerão de forma vitalícia sem solução, senão pela alteração da Constituição. continuar lendo

Isso é relativo, amigo.

Tenho juiz e promotor na família e sei o quanto eles trabalham em casa. Novamente, como o texto diz, são os "bons" que pagam os pecados dos "maus".

É claro que há absurdos, como o juiz que vai ao fórum às 14h e sai às 17h todos os dias, o que tranca a sua pauta e gera acúmulo de serviço. É óbvio que isso é errado.

Todavia, essas duas pessoas da minha família vão ao fórum/sede por volta das 11h da manhã, no entanto, já trabalharam com os seus malotes de processo em casa desde às 8h. E, ainda, chegam em casa após às 19h. E garanto que todos os dias atendem ao público e aos devidos advogados, sem problema algum.

Não é porque o sujeito não está fisicamente no fórum que ele não está trabalhando. Se o juiz chegar ao fórum às 9h ele fará exatamente o que ele está fazendo em casa: trabalhando com os seus processos.

E não custa lembrar que o juiz não precisa estar disponível 24h do seu dia e nem durante todo o expediente forense à disposição dos advogados. Pode não parecer, mas juízes e promotores também trabalham com processos. continuar lendo

Se os juízes honestos quisessem, já teriam feito uma limpeza na corte.
Se os desembargadores honestos quisessem já teriam limpado a base.
Se os advogados quisessem já teriam limpado a OAB a muito tempo.
Se a OAB quisesse já teria destituído, cancelado o registro e expulso todos os advogados corruptos que existem.
Se o povo quisesse não contrataria advogado pé-de-chinelo ou de porta de cadeia.
Se os advogados honestos quisessem, escolheriam melhor seus clientes.

Enfim, se o BRASIL pudesse, faira um Tsunami antes de Cabral baixar aqui. continuar lendo

Excelente comentário!
Concordo plenamente. continuar lendo

Se fosse tão fácil, Joaquim Barbosa ainda estaria no STF e Gilmar Mendes Não. Se fosse simples, Protógenes Queiroz estaria na PF e Daniel Dantas atrás das grades. Se fosse tão fácil o juiz Livingsthon José Machado estaria ainda na magistratura (http://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI85616,41046-Juiz+de+ContagemMG+que+em+2005+decidiu+liberar+dezenas+de+presos).
Se você trabalhasse com um grupo de pessoas que possuíssem mais poder que você "se-ria" fácil você entender do que eu estou falando. continuar lendo

E, Se você Renato, não fosse tão submisso, talvez procuraria outro emprego ou outra função em que pudesse exercer seu serviço sem que lhe mandassem fazer o que não quer.
Questão de escolha. continuar lendo

e, se você Renato não fosse submisso, escolheria melhor o seu emprego e procuraria um em que pudesse exercer seu conhecimento, sem ficar recebendo ordem ou obedecendo e fazendo mesmo sabendo que a ordem é errada.
questão de escolha continuar lendo

e, este foi um dos motivos que Joaquim Barbosa se aposentou, mesmo podendo ficar no STF.
Escolheu ficar só, e não ser mandado pelo poder.
questão de conhecimento e honra. continuar lendo

Excelente comentário! bravo! bravo! continuar lendo

Antes de assumir o cargo público: reputação ilibada. Após assumir o cargo público: pode pintar e bordar! Ou seja, a manutenção da reputação ilibada não é, na prática, característica necessária e essencial para a continuidade da manutenção do exercício da função no serviço público para esses profissionais.

Não deixo de acreditar que pessoas que assumem esses cargos públicos não possuem qualquer compromisso com a lei, com a justiça, não possuem valores morais e éticos, e por fim, não possuem verdadeiro talento para exercer a função, pois não amam a justiça. Apenas passaram em concurso público e se aproveitam do cargo que ocupam para alimentar desejos puramente materiais ou de demonstração (ilegal) de poder.

Parabéns pelo excelente, e infelizmente atual, artigo, prezado professor. continuar lendo

O professor LFG mais uma vez nos dá o exemplo de humildade. Mesmo sendo um juiz (aposentado) se dispões a falar das mazelas de seu círculo de convivência. Parabéns. Raro ver pessoas abrindo as entranhas de suas próprias classes profissionais, tudo em nome de uma pseudo ética (falsa), como os médicos no Brasil. Confesso que até hoje vi apenas duas pessoas a falarem a verdade sob o lema "doa a quem doer": O senhor LFG e o então decano do STF, o eterno ministro Joaquim Barbosa (por que será que preferiu aposentar a continuar lutando pela limpeza moral desse Brasil corrompido). O resto, só balela. Sou policial e pelos anos de experiência na atividade pública posso dizer que esse Brasil não tem mais jeito! Eu não acredito. Ainda que tenha alguns bem intencionados (mesmo), seu trabalho será em vão, porque aqui vale a máxima "uma andorinha só não faz verão". Mas mesmo assim continuo defendendo meus princípios morais, porque acredito piamente no cumprimento das sagradas escrituras num porvir não tão longe. continuar lendo