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20 de Abril de 2024

Fim da reeleição: bom remédio para o Brasil (?)

Publicado por Luiz Flávio Gomes
há 10 anos

Marina Silva (PSB) defende a ideia da não reeleição (para os cargos executivos), o PT nada disse oficialmente e o Aécio Neves (PSDB) desconversou: “Eu defendo, como sempre defendi, a coincidência das eleições com mandatos de cinco anos, sem direito à reeleição. O momento em que isso vai ser implementado dependerá do Congresso Nacional”. Se não nos mobilizarmos amplamente, a ideia da não-reeleição para o Executivo e para o Legislativo não vai vingar nunca.

Dos 513 deputados que irão compor a nova legislatura, com início em 1/2/15, 260 dizem ter como profissão a “política”. Tornaram-se, como se vê, políticos profissionais! Depois vêm advogados (44), empresários (42), médicos (29), servidores públicos (14), engenheiro (11), professores (11), economistas (7), jornalistas (6), agricultores (5), policiais (5) e outros (67) (Folha 9/10/14: 7). Dois candidatos barrados pela Lei da Ficha Limpa conseguiram votos para se eleger (Paulo Maluf e André Moura), mas ainda têm recursos pendentes.

Homens (não as mulheres), brancos (não negros nem índios), adultos (não crianças), grandes ou médios proprietários (não os pequenos ou não-proprietários), de orientação sexual masculina (não homossexuais etc.), corporalmente sãos (não portadores de deficiência física), livres (não os que se encontram em neoservidões ou neoescravidões), com ensino superior completo (411 dos 513 parlamentares) e políticos de carreira (260 dos 513): esse é o parlamentar médio na próxima composição da Câmara dos Deputados. Desde que a burguesia ascendente assumiu o poder político (no século XVII na Inglaterra e no século XVIII na França) sempre foi assim a composição dos Parlamentos, que são um retrato da sociedade e, acima de tudo, da forma de pensar da sociedade.

A maior bancada da Câmara, portanto, será dos “políticos de carreira” (260 políticos profissionais, que assumem a política como profissão). A segunda maior bancada (82 integrantes) é a doParentismo S. A. (filhotismo, familismo etc.). Esse é um fenômeno mundial, mas aqui tudo funciona de forma diferente. Em países como os EUA é o mérito de cada um que prepondera. Aqui é a indicação, a imposição, a escolha pessoal dos chefes dos partidos (é o famoso dedazo, como disse O Globo 9/10/14: 22). Os caciques manobram tudo dentro dos partidos, inclusive as gordas receitas que os financiadores das campanhas proporcionam. Não se estimula a troca dos antigos políticos por novas lideranças. São partidos viciados, que lutam somente pelo poder. Boa parcela dos brasileiros está exausta de tudo isso. A questão é como converter essa insatisfação em medidas concretas.

O desenvolvimento dos países depende de instituições fortes e organizadas (instituições políticas, econômicas, jurídicas e sociais). O Brasil se transformou numa sociedade extremamente complexa (com mais de 200 milhões de pessoas), com instituições fracas e desorganizadas (destacando-se o baixo nível de império da lei). A cada eleição renovam-se as esperanças de mudanças, mas tudo continua igual (“numa sucessão infinita de esperanças e decepções”, como disse Fernando Henrique Cardoso). Precisamente quando as forças sociais e econômicas se tornam variadíssimas e antagônicas é que as instituições deveriam se fortalecer. Em muitos países, no entanto, não é assim que funcionam as coisas. Tudo vai ficando cada vez mais complexo e as instituições vão se tornando cada vez mais impotentes, desconexas e disfuncionais.

Historicamente as instituições se fortalecem na medida em que os desacordos ideológicos, econômicos e sociais se incrementam. No Brasil invertebrado as coisas se passam de forma diferente. Estamos vendo muita desintegração e instituições mergulhadas na corrupção, na apatia, no mandonismo, no filhotismo, no familismo.

Recorde-se que “os atenienses pediram uma constituição a Sólon quando viram a sua polis ameaçada de dissolução porque havia tantos partidos diferentes [agora, 28 ocuparão cadeiras na Câmara] quantas eram as diversidades da região e a disparidade de fortuna entre os ricos e pobres chegou também ao máximo naquele tempo” (Plutarco, em Huntington, A ordem política nas sociedades em mudança, p. 23). Em situações históricas como essas são imprescindíveis instituições vigorosas, altamente desenvolvidas, para manter a organização social em andamento.

Não surgindo instituições fortes, os laços sociais vão se esfarelando, a descrença aumenta, a ira aparece e a indignação pode explodir, levando à extinção do modelo de organização social estabelecido. Não podemos deixar que o bonde chamado Brasil, agora com mais de 200 milhões de pessoas, continue andando sob o império das tendências desintegradoras, separatistas, corporativistas e desagregadoras. Um país sem um projeto comunitário catalisador das esperanças do seu povo tende a viver sobre ruínas, doenças, inflação descontrolada, violência, corrupção, desemprego e enorme sensação de impotência. Com a classe política frágil, sem capacidade para elaborar projetos comuns, estamos caminhando para a “lei do mais forte” (sociedades brutais, como descrevia Hobbes) quando deveríamos ser fortes no império da lei e da sustentável convivência.

P. S. Participe do nosso movimento pelo fim da reeleição e do político profissional. Veja“fimdopoliticoprofissional. Com. Br”. Baixe o formulário e colha assinaturas.

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Sem dúvida uma ótima solução, cargo político não é emprego. continuar lendo

Com certeza, Ótima solução.
Quando política deixar de ser emprego, a coisa anda. continuar lendo

É um serviço patriótico.
É algo como uma honra, defender seus eleitoras e seus interesses.
Aliás, poderia custar bem menos., não é mesmo??? continuar lendo

Com reeleição ou sem, fica tudo a mesma coisa.
Minha opinião é que se um politico quer se reeleger, deve pedir licença do cargo no mínimo 60 dias antes da eleição, para não ficar usando os bens do governo, aviões, funcionários, telefones, e ainda ganhar salário não fazendo nada.
Vejam a Dilma:
Vai a tudo que é lugar no avião da presidência
usa os Correios e toda a máquina para fazer sua propaganda
usa todos os funcionários para seu comitê
Continua recebendo salário, mesmo sem ter assinado qualquer documento no período da propaganda
Utiliza todo seu séquito e marqueteiros para sua propaganda pessoal e os leva no bojo do avião.
Pode ? continuar lendo

José Pedro, sem reeleição a Dilma não faria isso! continuar lendo

Foi no governo FHC que o projeto de reeleição foi aprovado. Com direito a venda de votos dos parlamentares da base aliada do governo pela aprovação da emenda. faziam parte do governo os partidos PSDB, PFL e PMDB. Este foi um dos maiores escândalos da década de 90. continuar lendo

Concordo com o fim do político profissional, mas acredito que no âmbito do Poder Legislativo, isso se daria com a diminuição do tempo do mandato de 4 para 2 anos.

Já temos gastos com eleições a cada dois anos no atual modelo, de forma que os gastos não seriam aumentados significativamente.

A população vota em um candidato por uma ou duas propostas que ele apresenta. O tempo que os candidatos dispõem na televisão na maioria das vezes só dá para mostrar a foto, o nome e o número. Não se sabe as propostas, nem quantos e quem são os candidatos. A votação no Legislativo é uma verdadeira democracia de faz de conta.

Estas são limitações difíceis de driblar a curto prazo. O candidato não vai apresentar as suas propostas para 4 anos no tempo mínimo concedido na televisão, a televisão não vai aumentar o tempo, os brasileiros não vão passar a pesquisar os candidatos a fundo, quando estão mais interessados em fazer piada da política, votando em candidatos de santinhos achados no chão no dia da eleição.

Não são necessários mais que 2 anos para que um candidato, que ganhou votos para aprovar uma ou duas propostas e teve segundos para se apresentar na TV, consiga mostrar a que veio. A demanda da sociedade neste campo gira sempre ao redor das mesmas matérias por anos: novo CP, novo CPP, novo CPC, casamento homoafetivo, maioridade penal, reforma na legislação trabalhista... Com isso, acredito que se colocaria candidatos ali para seguir em pontos específicos na matéria legislativa e esta, enfim, teria maior chance de sair do lugar. continuar lendo

tem pessoas que si acha dono do cargo e não quer mais sair e o povo aceita e principalmente vota, exemplo o Sarney nasceu politicando e vai morre politicando porque no estado que ele manda e não pedi as pessoas si sente muito desamparada pelo poder público nas questões segurança saúde e educação, si o povo pensar um pouco mais vai ver que privatização tira dos políticos o poder de indicar nas empresas do governo pessoas como essas que estão mostrando para o pais que o dinheiro público não tem dono, o pior e que ainda tem pessoas que acha certo o que esta acontecendo no governo, senhores si mudar agora tem jeito si não mudar as consequências vai ser muito dura pro Brasil. Francisco Neto Caetano, Brasileiro Cearense do sertão mais muito cociente do que faz continuar lendo

Jeanine Santos da Silva

Bem aproveitado pelo PT, reeleições e compra de apoio. Nada de novo sob o sol! continuar lendo

joao bohner

faria sim, pois quando o lula (argh...) era presidente usaram a maquina toda para elegê-la. E depois, durante o governo ainda compraram votos com Mensalão. continuar lendo

Não é apenas com a reeleição que devemos nos preocupar,mas... com a reforma política que queremos.Devemos lutar para implantar no Brasil o voto distrital, o parlamentarismo e se possivel o sistema "unicameral", onde teriamos apenas uma casa de leis, no caso a Câmara dos deputados.
Imaginem que com o fim do Senado Federal, o pais economizaria perto de R$ 3 bilhões de reais anualmente e nunca mais veriamos suplentes assumirem sem ter tido um ÚNICO voto?
Nessa mudança que partilho, teriamos uma Câmara Federal com + ou - 250 deputados (hoje temos 513), sendo que estados com MAIS eleitores elegeriam mais deputados, de modo proporcional.
Nas Prefeituras municipais, apenas o Prefeito e os secretários teriam salário que seriam reajustado nos mesmos moldes do salário minimo, e os Vereadores NÃO teriam salário, apenas uma ajuda de custo e TODOS exerceriam suas profissões, reunindo-se uma vez por semana para tratar dos assuntos do municipio.Hoje nos municipios de até 200 mil habitantes, os vereadores tem sessão APENAS uma vez por semana, de modo que não atrapalharia suas ocupações principais.
É um sonho? Talvés, mas é o que penso e se dá certo na SUÉCIA por ex;, por que não no Brasil ? continuar lendo

Estender o pleito para anos é uma boa causa, eliminar os oito anos do senado e não reeleger os deputados também é uma grande pedida, MAS, QUEM é são o suficiente par pular nos dentes deste monstro apático chamado governo?
Vou aderir com prazer a campanha.
Talvez se houver algo do gênero em um outro canto, também, e assim teremos políticos não profissionais.
Só deixando BEM CLARO, isso vai funcionar MUITO melhor SE o voto for facultativo.
Aí, nem precisa se esforçar tanto para ter políticos bem intencionados, pois o poder será pouco e o dinheiro vai encurtar (SE as campanhas não puderem receber financiamentos a não ser de fundo de campanha.
Aí vai ser uma batalhá épica voto a voto, ideal a ideal, e teremos maciçamente representantes do povo eleitos, não representantes de si mesmos e de seus financiadores (BNDES???). continuar lendo

Outra sugestão seria a eleição popular para ministro do STF a partir de lista tríplice elaborada pelo Congresso Nacional. Como temos eleições de 2 em 2 anos aproveitaríamos para eleger os mais altos dignatários daquela corte. Presdente nenhum indicaria mais ninguém para o STF. continuar lendo

A reeleição não tem sentido no Estado, mas, tem menos sentido ainda quando se enfoca o Poder Legislativo, visto que este tem o teor de representar o Povo, e quanto maior for a renovação, maior sera a aproximação das leis com a realidade social do Brasil.
Pois, necessário que o politico saia efetivamente da sociedade e a represente, para assim, pelo menos em tese, ser efetivo. Já um parlamentar que está a 20 anos exercendo esta "profissão" perdeu toda a sua essência e adquiriu os vícios oriundo do exercício da profissão, e com ela a sua representatividade popular. continuar lendo

Tipo, Suplicy, Sarney, Collor???
É realmente como diz, e vemos isso acontecer bem debaixo do nosso nariz. continuar lendo

E o Inocêncio de Oliveira?

Deputado federal, 1975–1979, ARENA
Deputado federal, 1979–1983, ARENA
Deputado federal, 1983–1987, PDS
Deputado federal, 1987–1991, PFL
Deputado federal, 1991–1995, PFL
Deputado federal, 1995–1999, PFL
Deputado federal, 1999–2003, PFL
Deputado federal, 2003–2007, PFL
Deputado federal, 2007–2010, PR
Deputado federal, 2011–2015, PR

E qunato dinheiro êle levou, supostamente, para o pobre povo do Nordeste, mas que na realidade foram para poços artesianos em suas fazendas, entre outras aplicações particulares?

http://www.muco.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=449:caso-inocencio-de-oliveira&catid=34:sala-de-escandalos&Itemid=53 continuar lendo

Também penso dessa forma. Com a renovação das cadeiras, seria muito mais difícil que esquemas monstruosos como o mensalão fossem armados, pois dependem de articulação, confiança (irônico, eu sei, mas... enfim), etc., e isso tudo demanda TEMPO, que nesse cenário seria mais curto. continuar lendo

Vejo que há um seletividade nos deputados. No saco que colocaram Suplicy, Sarney, Collor, Inocêncio cabem José Serra, Duarte Nogueira, e na esfera estadual Capez, Bragato, só para citar alguns. Ou a esses cabe alguma exceção? Isso para mim tem outro nome: hipocrisia. continuar lendo

Sim, claro, inclusive para evitar ser taxado de hipócrita, deveria ter nomeado todos os candidatos que já foram reeleitos no Brasil, assim mostraria que não está "puxando para nenhum lado"... continuar lendo

bom mesmo seria políticos sem salários igual na Suécia,politico governando pelo povo e para o povo,melhor distribuição de rendas para a poulação (salários dignos),melhor saúde,melhor educação,sistema penitenciário com aprendizado técnico e produção para o país com reintegração do preso para sociedade,revisão penal para a maioridade penal,voto não obrigatório...........aí sim eu voltaria a acreditar no Brasil,com punição severa aos corruptos com ressarcimento em dobro do que usurparam dos cofres publicos! continuar lendo

Concordo com você, mas não sou tão radical assim, afinal, SE trabalhou, deve receber seu salário, porém, sem os super salários e verbas de gabinete, quase que inesgotáveis (exagerei, eu sei, mas o exagero maior é da política brasileira que permite isso...), além das "vantagens" (pra quem além deles próprios?) vitalícias DEPOIS de terminar seu mandato, ou seja, "foi senador uma vez e nós teremos de sustentá-los pelo resto de suas vidas"... Creio que se acabasse com a reeleição de todos os cargos eletivos e retirassem essas "vantagens". Não resolveria o problema do Brasil, pois nós, brasileiros, ainda temos muito o que crescer e aprender na democracia, mas certamente seria um bom começo continuar lendo

Carlos Augusto de Sousa Leita,
Não estou bem certo se políticos sem salários, mas se reduzisse para o salário médio de um servidor público, algo em torno de 5.000,00 reais, sem essa maldita verba de gabinete para que os parlamentares fossem assessorados por Servidores com provimento de cargo efetivo, (com ingresso através de concurso público) com apenas 01 carro de representação que ele próprio fosse o motorista, acabando com todas essas verbas indenizatórias e gratificações: auxílio moradia, auxílio paletó, passagens aéreas sem nenhum critério, cartão corporativo etc, etc e etc. E para complementar, confisco de todos os bens de corruptos até devolver o último centavo desviado e como prêmio de consolação fossem banidos da vida pública, sem nenhuma possibilidade ingresso no serviço público em nenhuma hipótese. Talvez assim saíssemos desse mar de lama que estamos afundados. E não mais que 02 partidos políticos. continuar lendo

O salário pesa pelo tamanho do pais, o deputado no Brasil tem que abandonar o emprego e mudar de estado.O cidadão ao exercer cargo público,não poderia ter prejuízo em relação a seu sustento e ao mercado de trabalho. continuar lendo