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19 de Abril de 2024

Fux “pressiona” por nomeação de filha como Desembargadora

Publicado por Luiz Flávio Gomes
há 10 anos

A nomeação de alguém para ser juiz (pela responsabilidade que o cargo implica), fora dos concursos públicos, deve ser fruto de um criterioso processo de seleção, fundado em marcos de referência muito claros. O candidato deve apresentar um relato e um curriculum substanciosos, que vão muito além da mera indicação ou da mera “força política” (que lembra tudo do Brasil-colônia). Vivemos numa sociedade conflitiva, impregnada de subjetividades e interesses totalmente antagônicos. Se o processo de seleção de pessoas não se revestir de objetividade (pública e transparente), tudo fica ao sabor de quem manda mais, de quem influencia mais, de quem comanda mais. Criticamos a velha política e isso significa praticar a velha política.

O título deste artigo foi dado pela Folha de S. Paulo. Estaria havendo “constrangimento no meio jurídico” em razão da campanha do ministro em favor da sua filha, advogada, para ocupar uma cadeira no Tribunal de Justiça do RJ (pelo chamado quinto constitucional, que significa reserva de vagas para membros da advocacia/defensoria e do Ministério Público).

O tema do quinto constitucional é polêmico. Sou favorável a essa ideia, mas devemos reconhecer que o processo de escolha vigente está completamente ultrapassado (sendo mesmo até imoral, em alguns casos). Não há nada de errado que a filha ou filho de um ministro queira ser indicada ou indicado (para ser desembargador). A questão não é o “quem”, sim, o “como”. E o “como” passa pela modernização do processo.

Nas sociedades democráticas todos os procedimentos que decorrem de pura indicação, filiação, origem, cor de pelé etc. São cada vez mais contestados. Odeia-se, a cada dia com mais intensidade, sobretudo em sociedades extremamente desiguais como a nossa, a oligarquia, a plutocracia, o nepotismo, o filhotismo etc. A essência do cargo público deve residir na meritocracia (ou na eleição por voto direto do povo).

Tanto a escolha dos ministros dos tribunais superiores como a dos interessados no quinto constitucional deve ser modernizada, com ingredientes típicos da meritocracia, o que significa aferição de conhecimentos por meio de provas (ou formas substitutivas) e títulos.

Deveríamos pensar em sabatinas públicas honestas e transparentes (como a luz do sol) realizadas pelo Judiciário e pelo Legislativo, antes da nomeação pelo Executivo (que também deveria sabatinar o interessado publicamente). A própria OAB e o Ministério Público, na seleção dos melhores para o quinto constitucional, deveriam abrir um processo de sabatina pública, onde tudo poderia ser perguntado, para se aferir as competências e habilidades dos candidatos (conhecimento jurídico e reputação ilibada).

Constitui um atraso incomensurável conceber que alguém vai para a “folha do Estado” por meio de um mero processo de indicação ou nomeação direta de quem manda (tal como ocorria na colônia). O processo de escolha dos juízes, que não se submetem a concursos públicos, jamais deveria ser meramente burocrático ou procedimental (comprovação de tantos anos de advocacia ou de Ministério Público e “força política” de cada candidato).

Desde o Iluminismo prepondera a razão subjetiva (ou instrumental ou individualista) sobre a objetiva (ética e moralmente irrefutável). No caso brasileiro, essa razão subjetiva se tornou deplorável porque normalmente quem detém o poder detém também o poder de indicar, de nomear, de eleger, de sufragar (veja o que os inescrupulosos agentes econômicos e financeiros fazem com os corrompidos políticos).

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Sem experiência, filhas de ministros do STF são indicadas a altos cargos Elas podem ser desembargadoras

85 Comentários

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Desanimador. Para um concursando, ver isso acontecer é um "tapa na cara". Pois, com o objetivo de alcançar a carreira pública, lutamos com horas de estudo, e não com privilégios e ligações intimidatórias. Sinto-me enraivado e revolto com esse tipo de situação. Um completo descaso com o jurisdicionado, o Judiciário e toda a comunidade jurídica.

Para entender mais sobre o nepotismo "disfarçado" do poder judiciário:
ALMEIDA, Frederico Normanha Ribeiro de. A nobreza togada: as elites jurídicas e a política da Justiça no Brasil. 2010. Tese (Doutorado em Ciência Política) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.

No mais, outro caso de “constrangimento no meio jurídico”:
"Filha de ministro do STF é nomeada ao TRF após derrotar nomes experientes". Link:
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/03/1427835-filha-de-ministro-do-stfenomeada-ao-trf-apos-derrotar-nomes-experientes.shtml?cmpid=%22facefolha%22 continuar lendo

Se ela foi nomeada pelo Quinto Constitucional é porque tem "dedo" (inicial), da Ordem dos Advogados do seu Estado ou se for do Ministério Público a dos colegas que a elegeram em "primeira fase".
A culpa não é toda do papai Ministro nem da cúpula do TRF local. Eu acredito ainda que a culpa maior é de quem deu a oportunidade de ela chegar lá. Votaram nela (e votaram muito bem), se não, como me explicaria ela ter chegado tão longe ao ponto de ser a escolhida? Elegem mal e depois reclamam.
Do aprendiz ao mestre (ninguém sabe votar). São altamente influenciáveis (votam pelo nome, pelo dinheiro e pelo poder do outro)...., é bonito ser feio, por isso voto no "bonito"$$$$$. Asco de qualquer tipo de eleição!!!
OBS.: o comentário é sobre a que já foi eleita (a da msg anexa, a do TRF e não a do TJ-RJ) continuar lendo

parece que voltamos na idade média é extremamente revoltante . Na real não preciso ir tão longe no tempo para fazer um analogia ,basta lembrar do coronelismo no Brasil. Assim me pergunto será que isso é possível nos dias de hoje ??? e o que eu vejo : É POSSÍVEL SIM .hahahhaha que tragico continuar lendo

Dá nojo só de falar estes nomes.
Esperamos que se aposentem logo e que venham novos e melhores Juizes para enfim podermos confiar na Justiça.
Após a saida do Eminente juiz, Dr JOAQUIM BARBOSA o que restou ? continuar lendo

"Após a saida do Eminente juiz, Dr JOAQUIM BARBOSA o que restou ?"

Restou sair para as ruas e fazer como foi feito em 1789 na França. continuar lendo

Hô Helena....
Na época do coronelismo penso que era menos em tudo......
Hoje não sabemos onde vai parar e você fica pensando no passado????
Acorda!!!!!! continuar lendo

Isso não é só um tapa na cara de quem estuda para concursos, isso é um tapa na cara de uma sociedade inteira, que cada mais sofre com contínuos abusos dos detentores do poder público, de todas as esferas! continuar lendo

Fux, no fundo é coerente.
Não podemos olvidar que ele é o principal personagem de uma das mais desveladas - e vergonhosas - campanhas pessoais para acesso à Corte Suprema.
Ao tempo do julgamento da Ação Penal nº 470 a imprensa tratou de descortinar várias histórias paralelas no sentido de que, ao tempo de sua candidatura à vaga aberta no STF, com a aposentadoria do Ministro Eros Grau, o mesmo procurara pessoalmente a alta canalha petista para pedir apoio para sua entronização na Corte, sob a insinuação de benesses veladas no julgamento do referido processo.
Guindado ao cargo (não sem alguma previsibilidade, pelo contexto histórico), deu de ombros e não aliviou para ninguém.
Mas não deixou de ostentar a aura contraditória que o permeia. Candidato de si próprio, ainda que de pouca pose em frente às câmeras e holofotes, é fato de que não se constrange de transitar junto ao poder, no melhor estilo castelar.
Assim, querer "empurrar" goela abaixo da OAB/RJ sua filha, de parcos 33 anos de idade, e praticamente NENHUMA experiência comprovada na militância advocatícia, é a "cereja que faltava no bolo" que o mesmo vem confeitando há mais de duas décadas.
Coerência, ninguém poderá negar a Fux.
Difícil, mesmo, é defender sua ideologia ególatra. continuar lendo

Perfeito comentário! O pouco que nos resta é pressionar a OAB/RJ que tenha um pouco de decência e não sucumba aos caprichos do Ministro! continuar lendo

Excelente comentário, quem já observa de longa data as articulações do Sr. Ministro para si próprio, não ha de estranhar o que ele faz agora pela filha. Numa ação cujo prejuízo é de toda uma sociedade, para satisfação de mais uma nobre togada. continuar lendo

Prezado, disseste tudo. O lastimável é que a coerência dessa gente é só para fazer mal à sociedade.Os caras não têm escrúpulos. Descem a ladeira da imoralidade, jogam o nome na lama, mas preferem "jogar o jogo jogado". Não se predispõem a mudar o "estado de coisas" que apodrece o nosso cotidiano. continuar lendo

A meu ver, dentro do meu humilde conhecimento, acredito que os cargos de desembargadores para os TJs, ministros do STJ e STF deveriam ser somente por CONCURSO PÚBLICO com alguns anos de prática de advocacia e comprovada idoneidade moral. Simples, nada mais que isso. continuar lendo

Se um Ministro do STF, se presta a este tipo pressão, será que só para este fim ele se propõem interferir ? continuar lendo