Busca sem resultado
jusbrasil.com.br
18 de Maio de 2024

13 e 15 de março: massas rebeladas

Publicado por Luiz Flávio Gomes
há 9 anos

13 e 15 de maro massas rebeladas

Onde há poder há resistência, mesmo nas microrrelações de poder (Foucault). Quando não concordamos com um determinado governo, nada mais legítimo que protestar (e desejar sua mudança pela via democrática). Mas é de se lamentar quando a luta do povo (ainda que hercúlea) fica pela metade. Se sabemos (pela história e pelos indicadores sociais) que todos os governos fazem sempre praticamente a mesma coisa (preservação dos interesses das classes sociais dominantes, ou seja, das relações de domínio e de exploração, incluindo anomalamente muitas vezes a cleptocracia – a ladroagem crua e nua), nossos protestos não deveriam ser dirigidos apenas contra o governo plantonista (do PT no plano federal e do PSDB em alguns estados: SP, PR, GO, MS e PA), sim, contra o sistema de dominação que é cruel no Brasil: em 1960 nosso Gini (índice que mede a desigualdade) era de 0,50; chegou a 0,64 em 1988 (fruto da ditadura) e voltou para 0,51 em 2014 (número que significa extrema desigualdade). Os países europeus, para se ter uma ideia, possuem Gini médio de 0,30; os EUA, de 0,45.

Somos um país extremamente desigual e severamente cleptocrata (porque dominado pelo patrimonialismo, pela “compra” do poder político pelo poder econômico e pela roubalheira generalizada). Quando o poder jurídico aperta o controle do poder político-econômico (em momentos raros), todos os partidos “comprados” pelo dinheiro se aliam e mandam o povo às favas. No dia 5/11/14, a anterior CPI da Petrobras (que morreu de anemia) votava requerimentos para quebrar o sigilo das empreiteiras e convocar larápios da roubalheira. PT e PSDB fizeram um “acordão” e impediram qualquer medida que pudesse buscar a verdade. Os partidos estão se lixando para a população, quando atuam para salvar a pelé deles e dos que os financiam.

As redes sociais prometem mais duas grandes manifestações populares (13 e 15 de março). Fico feliz quando vejo o povo de uma república cleptocrata (governada por ladrões poderosos) indo para as ruas. Mais ainda quando a manifestação se legitima pela ausência de violência. Vence-se, nesse caso, a inércia e o comodismo (assim como a servidão voluntária, como dizia Boétie). Expressão de que somos seres sociais e também políticos (Aristóteles). É crucial ter consciência de que numa república de roubalheiras diárias como a nossa, jamais teremos mudanças sociais e melhoras na democracia sem a participação popular. O consenso popular diz que os partidos políticos não representam os interesses gerais (Rousseau está morto!). Estão “vendidos” ao poder econômico (sobretudo via financiamento das caríssimas campanhas eleitorais).

Poder político e poder econômico, desde o nascimento do Estado moderno (na Inglaterra no século XVII; na França, no século XVIII, quando a burguesia ascende ao poder), fundiram-se (para a preservação dos seus poderes e privilégios). O aposto do poder político é o poder jurídico (polícia, ministério público, juízes, tribunais etc.), que funciona precariamente (porque não temos aqui o império da lei).

As classes sociais dominantes, de qualquer modo, não dominam apenas por meio do Estado (que é manobrado e manipulado pelos reais detentores do poder), senão também por outras instâncias de domínio (como igrejas, escolas, meios de comunicação etc.) e pelos consensos em torno dos seus valores. Antes da construção do Estado brasileiro (1822), as classes dominantes (desde o feudalismo no solo português e durante todo o colonialismo – 1500-1822) exerciam o poder por meio de várias instâncias (econômica, política, jurídica, eclesiástica, valores difundidos na consciência coletiva etc.). Com o nascimento do Estado alguns poderes lhe foram canalizados (sobretudo o do propalado uso legítimo da força), mas a sociedade civil continua com suas tradicionais relações de poder (patrão-empregado, igrejas, mídias, marido-mulher etc.). Muita coisa já mudou (desde o feudalismo dos nossos ancestrais), mas isso não significa que as alterações já terminaram. A revolução, na verdade, apenas começou (Jaime Osorio, El Estado en el centro de la mundialización: 33).

O governo não passa da manifestação visível do Estado (é sua expressão mais escancarada). Por isso que é mais fácil contestá-lo. Mas o que ignoramos normalmente é o lado invisível desse mesmo Estado, que é a síntese das relações de poder e de domínio de classes (J. Osório, citado). O Estado faz parte de toda essa engrenagem de produção e reprodução das posições de poder (que disseminam e perpetuam as desigualdades). Esse é o nó que temos que desatar (ou o Brasil nunca sairá do atoleiro em que se encontra desde que foi descoberto).

Os indicadores sociais mostram evoluções (IDH em 1980 de 0,55, contra 0,72 em 2011; no mesmo período a expectativa de vida passou de 62,5 anos para 73,5; a taxa de alfabetização subiu de 74,5 para 90,4; a escolaridade saiu de 2,6 anos para 7,2; a renda per capita cresceu de 7.310 dólares para 10.200 – veja L. C. Bresser-Pereira, A construção política do Brasil: 375), mas exageradamente lentas. O descompasso entre a realidade e a expectativa geral é brutal. Pior: a frustração aumenta com as centenas de percalços intermitentes (inflação alta, desemprego subindo, cleptocracia instalada no poder, corrupção endêmica, desigualdade sistêmica, violência epidêmica, justiça morosa, ausência do império da lei e por aí vai). As massas têm motivos de sobra para se rebelarem. Mas nessas horas o poder econômico dominante se esconde e deixa o “abacaxi” apenas nas mãos do poder político. E o povo acha que é o poder político (o visível) que vai resolver seu problema, ignorando que ele foi “cooptado” pelo poder econômico dominante (que é o grande responsável pela produção e reprodução das desigualdades, pela exploração dos dominados – parasitismo -, pela divisão indevida do patrimônio público – patrimonialismo -, pela “compra” do poder político – roubo da democracia cidadã -, pela roubalheira do erário público – cleptocracia etc.).

P. S. Participe do nosso movimento fim da reeleição (veja fimdopoliticoprofissional. Com. Br). Baixe o formulário e colete assinaturas. Avante!

  • Sobre o autorPor Um Brasil Ético
  • Publicações3444
  • Seguidores12609
Detalhes da publicação
  • Tipo do documentoArtigo
  • Visualizações557
De onde vêm as informações do Jusbrasil?
Este conteúdo foi produzido e/ou disponibilizado por pessoas da Comunidade, que são responsáveis pelas respectivas opiniões. O Jusbrasil realiza a moderação do conteúdo de nossa Comunidade. Mesmo assim, caso entenda que o conteúdo deste artigo viole as Regras de Publicação, clique na opção "reportar" que o nosso time irá avaliar o relato e tomar as medidas cabíveis, se necessário. Conheça nossos Termos de uso e Regras de Publicação.
Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/13-e-15-de-marco-massas-rebeladas/173611585

29 Comentários

Faça um comentário construtivo para esse documento.

Não use muitas letras maiúsculas, isso denota "GRITAR" ;)

Protestos do dia 13, plena sexta-feira, estão lá os "cumpanheiros" do PT, CUT e MST, as figurinhas de sempre, que não produzem nada para o país, vestidos de vermelho, em defesa da continuação da roubalheira na Petrobrás.
Segundo o Jornal "Valor Econômico", manifestantes estariam recebendo R$ 35,00 para participarem dos "protestos" de mentirinha do PT. É o Bolsa Manifestação. É o fim da picada!

Protestos do dia 15, domingo, estarão lá as pessoas que trabalham (portanto só tem o fim de semana para se manifestarem), que produzem e que não aguentam mais pagar a conta por tanta corrupção, desvio de dinheiro público pra sustentar Cuba, países africanos e programas assistencialistas para garantir o voto de cabresto. Todos irão vestindo as cores do Brasil, que nada tem de vermelho. continuar lendo

E queira deus que milhares de pessoas que trabalham e estão de saco cheio dessa corja que está no poder vão ás ruas protestar . continuar lendo

Protesto do dia 15 estarão as pessoas que têm coragem de arriscar a vida pelo senador derrotado, mas, não arriscam as suas vidas pelos seus filhos e pelo país. continuar lendo

Júlio César, as pessoas vão às ruas, no domingo, pelo Aécio? Que viagem! continuar lendo

Sim , Sr Ivanil, mas é claro que as pessoas que vão pedir o impeachement dia 15 são muito trabalhadores, é a chamada classe burguesinha, a maioria estará com seu iphone e sua roupinha de marca kkk. Não achas que estão de barriga cheia, olha eu sou da classe burguesa, mas essa ideia de tirar Dilma me parece meio tola, quais são os argumentos legais ??? EU quero reforma política e ir p rua por causa disso, não para ficar de mimi, e dps postar tudo isso no meu intagram kkkkkkkkkkk continuar lendo

Sra Helena Maffioletti

Em que século a senhora vive para ainda pensar que as pessoas são dividas em classe proletária, classe burguesa e aristocracia?

Vou só lhe dar um motivo apartidário e livre de ideologias para que as pessoas peçam o impeachment:

Se a Pres Dilma fosse um produto que foi comprado com base num anúncio (peça publicitária), poderia ser devolvida à loja, que teria de devolver o dinheiro. Quem sabe o consumidor recebesse até uma indenização por danos morais, afinal a PROPAGANDA ENGANOSA o induziu ao erro e maculou sua auto estima (PERCEBEU COMO É BURRO E INGÊNUO), causando inegável dano moral.

Não estou dizendo que as medidas de austeridade ora adotadas não sejam necessárias. Mas o povo que votou na candidata que dizia que não faria o que os candidatos de oposição afirmavam ser inevitável deveria poder revogar o voto (se é que a eleição não foi fraudada) naquela que o fez acreditar que os outros candidatos não eram um opção viável.

Ressalte-se que de julho a outubro a Presidente tomou medidas (eleitoreiras) totalmente opostas às que agora estão sendo em prática (aumento do bolsa família, do salário mínimo"consequente aumento no valor do seguro desemprego agora penalizado", enxurrada de concursos públicos,...), de forma que estas devem estar sendo muito mais severas do que poderiam ser se as primeiras não tivessem acontecido.
http://www.mds.gov.br/saladeimprensa/noticias/2014/maio/benefícios-do-bolsa-família-tem-reajuste-de-10
http://g1.globo.com/economia/seu-dinheiro/noticia/2015/01/vejaoque-muda-comonovo-salário-minimo-der788.html
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/04/1441597-aposentados-podem-ter-reajuste-de-53-em-2015-veja-valores.shtml

Agora tudo é tomado por conta da inflação (faz com que a mesma quantidade de dinheiro compre menos), reajustes nas contas de luz, pedágios, gasolina (aumentam os preços do transporte de produtos e pessoas).

A crise dos caminhoneiros é consequência óbvia. O mercado resiste em aceitar alta nos preços, o empresário não quer reduzir o lucro (se investir no Brasil ficar ruim, ele tem liberdade de mandar seu dinheiro para outro país, e la empregar pessoas, então não o prejudique) reduz o custo no elo mais fraco (o caminhoneiro, que já está pagando mais caro no combustível e no pedágio). FAVOR NÃO CHAME O CAMINHONEIRO DE ELITE BRANCA OU DE BURGUÊS. continuar lendo

Ótima postagem e sempre esclarecedor. Espero que um dia o povo brasileiro acorde e tenha consciência da riqueza que possui. Se levante contra toda essa corja que está no poder há tanto tempo. Para começar a desatar esses nós, como bem colocado no texto, se faz necessário uma ação educativa que transforme a mente dos estudantes e os prepare para uma profunda mudança em nossa sociedade. Infelizmente não há interesse dos que estão no poder em fazer o povo pensar... continuar lendo

Há denúncias de que "manifestantes" estão recebendo R$ 35,00 para participarem dos "protestos" de mentirinha do PT, hoje, dia 13.
Vergonha! continuar lendo

Até que enfim professor, alguém diz algo com imparcialidade. Estou sempre de olho nas postagens e vejo sempre um grupo defendendo o outro, sem se preocupar com o cerne da questão. O que vejo é um mundo de gente vomitando ódio a um partido e pondo uma venda nos olhos com relação aos demais.
Acho legitima qualquer manifestação.
A corrupção no Brasil é que parece ser a regra. Temos que inverter estes valores.
O poder está nas mãos do povo. Basta saber o que quer e onde quer ir sem crucificar apenas alguns como tenho visto.
Vamos pra rua para defender mais educação entre outras e a reforma política para acabar com o financiamento privado das campanhas, pondo fim ao ciclo de roubalheira que não tem fim neste pais . continuar lendo